quarta-feira, 18 de maio de 2016

QUANDO UM POETA SE CALA


1ª SELETA DA POESIA CRIOULA - BOSSOROCA
2º Lugar Melhor Poesia
Autor: Fabrício Vargas
Intérprete: Natália Fonseca
Amadrinhador: Derlimar da Costa
A tarde findou-se ao tranco...
Arrastando alpargatas cansadas,
Trazendo lembranças guardadas,
De um tempo que foi embora...
O sabiá que cantava, lá fora,
Sem entender a despedida...
Viu o poeta, cansado da vida,
Guardar a dor dessa hora.
Depois vieram lua e estrelas,
Pra habitar o rancho silente,
Com um lume incandescente
E algum verso pra’o cantador...
Sem saber que aquela dor,
Que rondava os sentimentos,
Eram lamúrias e tormentos,
De alguma ausência de amor.
Poeta das madrugadas longas,
Traça seu próprio destino...
Qual um pastor, peregrino
Que tem na alma a esperança...
Cansado dessas andanças,
Campeando o mesmo sorriso,
Tentando achar o paraíso,
Que já perdera na distância;
E assim, calou-se o poeta!
Choraram as flores no campo,
E o que fora dor e pranto,
Que a luz do sol escondeu,
A noite não esqueceu,
De algumas rimas perdidas,
O papel e a pena, deram vida...
Pra’o sonho que adormeceu...
E a guitarra ganhou alma,
Junto a parede do galpão,
Quem sofria à separação...
De acordes soltos, ao vento,
Buscando novo argumento,
Pra compor uma simples canção,
Deixou a rima e a inspiração,
Aflorar um novo sentimento.
Se, todo o poeta calado
É um poema sem vida,
Ou alguma rima perdida
Querendo encontrar a paz,
Somente àquele que traz,
Suas angústias e dilemas,
Rebusca em outros poemas
Um novo romance que se faz.
Enquanto os olhos descansam
No remanso da noite calma,
Ficam os arpejos da alma
Vagando ao triste, vázio...
Buscando o olhar que partiu,
No amarelo d’algum retrato,
Quem um dia fora de fato,
O único amor que sentiu!
Quando um poeta se cala,
Calam-se as vozes do coração,
Não deixa nenhuma razão,
Ao silenciarem os fonemas...
Escondem-se vírgulas e tremas
Nas entrelinhas do universo,
Castigando rimas e versos
Pra viver num outro poema!
Por isso um verso renasce,
Da dor daquele que se cala...
E a noite grande embala,
Qual carícias de criança,
Se vão angústias e ânsias,
Que atormentaram o poeta,
E o verso traz a descoberta:
- Pra’o amor não há distância!
http://poetasdogalpao.blogspot.com.br/p/quando-um-poeta-se-cala.html

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